História

A linha do tempo que traça a importância da Capela para o patrimônio histórico e cultural da cidade tem início na década de 1920, quando os irmãos Maristas adquiriram o prédio da Congregação de Nossa Senhora de Sion e ali instalaram o Colégio Santa Maria. A Capela foi inaugurada em 15 de outubro de 1939. Foram 45 anos de pregação religiosa, até a transferência da escola em 1983. Doravante, a Capela será um templo de pregação e propagação de outro bem: a cultura.

Início

As primeiras intervenções ocorridas nas cidades brasileiras durante a República Velha tiveram início pelas obras de saneamento e passaram, em seguida, a cumprir com a necessidade de escoamento da produção para a comercialização em mercados externos, caso das cidades do Rio de Janeiro e Santos, onde estavam localizados os principais portos brasileiros. Refletia-se, na capital paranaense, o mesmo modelo urbano, tanto para reorganizar disciplinarmente o viver na cidade, como para inserir a sociedade no sistema capitalista de produção.

O prédio que passou a abrigar o Instituto Santa Maria foi construído palas irmãs da Congregação Sion, e suas instalações atendiam colégio e internato para meninas. O terreno que continha uma velha casa pertencente a Alípio Nascimento foi comprado, em 1908, pelas irmãs, que no mesmo ano começaram a construção do Colégio Nossa Senhora de Sion.

Com a saída das irmãs em 1920, o prédio ficou fechado, até que a Mitra recebesse, em 1924, proposta de compra do imóvel pelos irmãos Maristas, provenientes da cidade de Mendes, estado do Rio de Janeiro. Em 1928, tal propriedade foi transferida à União Brasileira de Educação e Ensino, sociedade civil e caráter educativo, para associados ao sexo masculino e cuja administração seria confiada preferencialmente aos Irmãos Maristas.

Para que a educação religiosa, dos alunos Maristas fosse completa, a construção de uma capela interna no Instituto Santa Maria deixou de ser uma opção e passou a prioridade. O projeto foi encomendado ao escritório de Eduardo Fernando Chaves e aprovado em fevereiro de 1938. Fernando Chaves, alcançou destaque nacional entre os arquitetos brasileiros, ao vencer o Concurso Internacional para a construção do Banco Nacional do Comercio na cidade de Porto Alegre.

A inaugurar a capela do Instituto Santa Maria, ocorreu com a celebração da primeira missa, às 7h30, domingo, dia 15 de outubro de 1939. Representantes do governo revolucionário, oficiais uniformizados que, sob o véu da democracia, institucionalizaram a ditadura do Estado Novo, desfilavam, por entre os convidados, as tendências de um regime que combatias atividades “antibrasileiras”. Se a rigidez militar desse período ou a disciplina austera das ordens religiosas serviu de inspiração para a geometria simétrica imposta à fachada da edificação, não se sabe ao certo; o fato é que, construída em estilo neoclássico, esta era mais uma das linguagens que compunham o ecletismo arquitetônico vivido em nosso país no início do século XX.

Prefeitura de Curitiba assume o espaço

Mais de meio século depois, as transformações sociais, culturais e econômicas vinham ocorrendo na cidade. O velho Instituto Marista presenciou, de suas janelas, o espaço outrora limpo e arborizado, revestir-se de cimento e asfalto. Consentiu a demolição de suas partes antigas, a construção de novas dependências e, ao transferir suas atividades para novo endereço, assistiu à lamentável depreciação em algumas de suas instalações. Ao relacionar a preservação à questão urbana, há o desejo de perpetuar marcos arquitetônicos ou formas do urbano que materializam a história da cidade. Por isso, a capela Santa Maria foi definida como Unidade de Interesse de Preservação. Porém, na década de 1980, o imóvel passou por um processo de subdivisão no terreno e, se é possível contar o destino, todos os lotes foram comprados por um mesmo proprietário, o que possibilitou à Prefeitura adquirir o imóvel intacto e dar prosseguimento ao processo de preservação.

Como propriedade do município desde 1998, a capela está localizada em um setor da cidade inserido no Programa Marco Zero, que fomenta investimentos para a aplicação exclusiva de recursos na região central com o objetivo de dinamizar sua ocupação evitar usos indesejáveis de seus espaços. Situada em meio a outras edificações como o Teatro Guaíra e o Conjunto Cultural da Caixa Econômica Federal, que contém teatro, museu e galeria, a capela também possibilitou que em seus interiores fossem inseridas atividades voltadas a programas culturais.

Restauração

A restauração e adaptação, finalizadas em 2008, fizeram surgir uma sala de concertos com 203 lugares na plateia e 75 lugares nos mezaninos laterais e no primeiro balcão. Há lugares reservados para portadores de necessidades especiais, além de elevador e rampa de acesso que atendem aos portadores de deficiências físicas.

As janelas das salas de ensaio receberam vidros especiais para amenizar os ruídos externos e melhorar a qualidade acústica, garantindo condições adequadas para os encontros da Camerata Antiqua e de outros importantes grupos musicais que formam a programação do espaço. As obras e a nova ocupação da Capela Santa Maria, inaugurada em janeiro de 2008, durante a Oficina de Música de Curitiba, são um marco na preservação da memória e no registro histórico do patrimônio da cidade.

O projeto de restauro da capela do Colégio Santa Mara assume, hoje, um papel transformador, ao recompor uma parte da região central até então desativada. As formas da antiga Capela envolvem hoje as apresentações da Camerata Antiqua de Curitiba premiada, inclusive, em festivais internacionais. Recupera-se um espaço desativo, para remetê-lo a novos usos. Criou-se um desejo, instalou-se uma qualidade no urbano. Na perspectiva de guardar em seu interior evidências de uma edificação que existiu como capela, demonstra que o que há em Curitiba é importante para resguardar a história da cidade.

Camerata Antiqua de Curitiba

Após 31 anos de existência sem um local próprio e adequado para seus ensaios e apresentações, a música que conquistou o reconhecimento internacional e premiou os integrantes da Camerata durante os festivais da Oficina de Música, inseridos na tradição da cidade desde 1982, é agora o sopro de vida que faz renascer a Capela do Colégio Santa Maria.

Ao percorrer os novos espaços inscritos sobre o que foi o antigo Colégio, o público curitibano vivenciará mais do que um simples lugar de memória e, sim, mais um lugar para rememorar.