Uma vez por mês, a monitora da Casa de Leitura Walmor Marcelino, Kely Medeiros, sai pelas ruas do Sítio Cercado em busca de novos leitores para as 6,6 mil obras disponíveis para empréstimo. E simplesmente para oferecer à vizinhança alguns minutos de contato com a poesia contida nas letras.
Com ajuda de uma bicicleta, ela faz às vezes de uma “caixeira viajante das Letras” e, em vez de vender produtos de casa em casa, ela oferece, gratuitamente, literatura – recitada e por escrito. Este é o projeto Pedal Social, que ela conduz há cinco anos.
Kely criou a proposta em 2012 para levar os textos para suas contações de história em áreas de difícil acesso e – por isso a bicicleta como meio de transporte – e que a partir de 2014 foi incorporado às suas atividades da Casa da Leitura.
Na bagagem, estão pequenos contos, poemas selecionados para presentear quem aceita ouvir trechos de livros de autores consagrados da literatura brasileira e mundial.
Kely aborda quem ela encontrar pelo caminho, na ciclovia, no ponto de ônibus, no comércio, nas portas das casas. Neste mês de julho, os textos escolhidos tinham relação com o passar do tempo e, na seleção, a poesia de Vinícius de Moraes e de Marina Colasanti. “A escolha das leituras tem a ver com o público que acho que vou encontrar. Hoje, por exemplo, vou para a Vila Novo Horizonte, que tem uma grande população idosa”, explica.
Novos leitores
E nada a desanima. O pedal social de julho foi na manhã gelada desta quarta-feira (17/7). A temperatura estava em 3ºC.
A maioria das pessoas é receptiva. Como a técnica em enfermagem Marli Prudente, 58 anos, que disse ter ficado surpresa em “ganhar” um recital literário particular no caminho para o trabalho. “Achei lindo. Ainda mais aqui no Sítio Cercado. A gente acha que essas coisas de cultura ficam só na região central. Fiquei feliz em saber que tem um local para ler aqui”, fala.
O objetivo final do projeto é instigar a população a procurar as obras favoritas – e outras – na Casa de Leitura.
Comunicação próxima
O mestre de obras Carlos Pedro da Silva, 54 anos, e o cozinheiro Carlos Alberto Pereira Goulart, 49 anos, também não sabiam que eram vizinhos de um local com acesso gratuito a livros, revistas em quadrinhos, rodas de leitura e outras atividades culturais. Se interessaram na divulgação feita pelo Pedal Social para levar os netos.
“Moro em Curitiba há 43 anos, conheço quase todos os bairros e não sabia que tinha algo tão especial aqui pertinho”, disse Silva.
“É muito legal essa comunicação feita próxima da gente. A leitura desenvolve, ajuda a conhecer o mundo de outra forma”, destaca Goulart.
Melhor ser alegre que ser triste
Kely afirma que, ao mesmo tempo que conta histórias, também as coleciona. “Uma das que mais me marcou foi a de um rapaz para quem recitei ‘O samba da benção’, do Vinícius de Moraes. Logo depois ele me disse que estava pensando em tirar a própria vida, mas eu tinha feito ele mudar de ideia”, fala.
O autor abre a música com os versos “É melhor ser alegre que ser triste/ A alegria é a melhor coisa que existe / É assim como a luz no coração.”