Um bate-papo com quatro diretores de cinema e a exibição dos filmes Carta à Fellini, de Valêncio Xavier, e Lance Maior, de Sylvio Back, abriram a programação da 1ª Mostra Curitiba de Cinema, na noite desta quinta-feira (29/8), no Cine Passeio. Até 11 de setembro serão exibidos 21 filmes de animação, dramas, comédias, ficção e terror, realizados por diretores paranaenses.
Confira a programação da Mostra Curitiba e Cinema
A mostra tem a proposta de apresentar a qualidade e a variedade das produções locais a partir da virada do século 21, especialmente com a política de fomento ao audiovisual desenvolvida pela Prefeitura.
Numa breve solenidade de abertura, a presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Ana Cristina de Castro, deu as boas-vindas ao público e aos realizadores, com uma saudação especial a Sylvio Back, o homenageado da noite. A presidente da FCC apresentou números e demonstrou a força da produção cinematográfica na economia.
“O impacto econômico do audiovisual é de 0,46% do PIB nacional, ficando acima de setores como o têxtil, o farmacêutico e o de papel e celulose, com mais de 300 mil empregos gerados e com relevante reflexo na economia criativa”, disse.
Ana Cristina também enfatizou os investimentos do município no setor, por meio das duas modalidades da Lei de Incentivo à Cultura – Mecenato Subsidiado e o Fundo Municipal da Cultura. De 2017 a 2019 foram R$ 12 milhões.
A presidente da FCC destacou o sucesso do Cine Passeio, que contabiliza, desde a sua inauguração, em março deste ano, um público de 30 mil pagantes.
Experiências
Os diretores convidados para o debate deram um panorama de como foram suas experiências de filmagem em Curitiba. Cada diretor abordou um período, fazendo com que o público pudesse entender como foi a evolução do cinema paranaense, desde uma época em que Curitiba permanecia à margem das atenções e dos investimentos – estes voltados quase exclusivamente ao eixo Rio-São Paulo.
“Quando eu dizia que fazia cinema em Curitiba me olhavam como um ET”, contou Sylvio Back, que lançou seu primeiro longa-metragem, Lance Maior, em 1968, todo filmado em Curitiba e arredores.
Para driblar as dificuldades, convidou para o elenco nomes que já faziam sucesso nas novelas da época – Regina Duarte, Reginaldo Faria e Irene Stefânia. O resultado foi o sucesso de público em todo o Brasil.
Depois que Back contou sobre como era fazer cinema nos anos 60 e 70, coube ao cineasta Fernando Severo expor as dificuldades dos realizadores das décadas de 80 e 90, que ainda contavam com recursos escassos e pouco apoio para as produções.
“As produções de cinema regionais nunca existiram solidamente. Só no final do anos 90 esse cenário mudou um pouco – em Curitiba, já como reflexo da criação da Lei de Incentivo”, avaliou Fernando Severo.
Marcos Jorge, um dos representantes daquela nova leva de realizadores, participou do debate. “Após passar uma temporada no exterior, retornei para Curitiba no início dos anos 2000 e encontrei um cenário em ebulição”, relatou.
“Curitiba é uma cidade agradável de filmar. Ela é cinematográfica, tem grandes atores e bons profissionais. Consegui fazer aqui uma produção consistente”, disse Marcos Jorge, que também é um dos curadores do Cine Passeio.
Representando a mais nova geração, Aly Muritiba, que despontou na última década, considera que o cenário favorável atual é fruto dos que batalharam nas décadas passadas.
“Nós já tivemos um acesso teórico e de conhecimento maior, tivemos oportunidade de frequentar faculdades e cursos de cinema que surgiram depois”, reconheceu Aly Muritiba.
“Hoje, filmar na cidade é muito mais fácil do que foi para as gerações anteriores”, completou.