O II Festival da Palavra de Curitiba reunirá destaques da cena literária nacional e internacional, cujas obras enfatizam a escrita como instrumento de resistência, com potencial para provocar mudanças e transformações. O evento acontece de 16 a 22 de junho, no Memorial de Curitiba e entorno, com uma programação de encontros, bate-papos e palestras durante todo os dias.
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Um dos nomes que sintetiza a proposta desta segunda edição é a escritora Conceição Evaristo, que fará a palestra de abertura do evento, na noite do dia 16 de junho, às 19h30. Romancista, contista e poeta, a autora mineira desponta no cenário da literatura brasileira contemporânea com uma obra tocante e engajada na afirmação da afrobrasilidade.
Um de seus livros mais conhecidos, o romance Ponciá Vicêncio (2003), aborda temas como a discriminação de raça, gênero e classe. Com base no que chama de “escrevivência” – ou a escrita que nasce do cotidiano, das lembranças, da experiência de vida da própria autora e do seu povo –, ela compõe romances, contos e poemas que revelam a condição do afrodescendente no Brasil.
João Almino
Membro da Academia Brasileira de Letras, o escritor e diplomata João Almino, nascido em Mossoró (RN), é outro destaque da programação. Almino foi várias vezes finalista do Prêmio Jabuti e tem obras premiadas, algumas traduzidas para o inglês, francês, espanhol, italiano, holandês e outras línguas. Além de romances, tem livros de história e filosofia política que são referência para os estudiosos do autoritarismo e a democracia. Entre estes, incluem-se Os Democratas Autoritários (1980), A Idade do Presente (1985), Era uma Vez uma Constituinte (1985) e O Segredo e a Informação (1986).
Depois de viver em 18 cidades pelo mundo, Almino mora atualmente em Curitiba, onde se instalou há aproximadamente seis meses. “Associo Curitiba a uma cidade que tem vocação literária. Um festival como esse faz todo o sentido. É importante que se abra para escritores de fora, o que enriquece o trabalho de qualquer lugar”, recomenda o escritor.
O som do rugido da onça
João Almino dividirá o palco do Memorial com Micheliny Verunschk, num bate-papo sobre “Escrever Hoje”, dia 17, às 18h. Ao refletir sobre o tema, Almino aponta para as várias possibilidades que o “escrever hoje” pode significar. “Uma das primeiras ideias implícitas tem a ver com a tecnologia. Escrever hoje é diferente de escrever no século 17 ou 18, porque hoje as novas tecnologias passam a ser o meio mais usual”, diz o escritor, dando um exemplo dos vários que pretende sugerir ao longo do bate-papo com a autora de O som do rugido da onça.
Também muito premiada, a escritora, compositora e historiadora pernambucana foi finalista do Prêmio Portugal Telecom de Literatura, com o livro de poesia Geografia íntima do deserto (2003). Micheliny foi a única mulher estreante e também a mais jovem a ficar entre os dez finalistas. Com o romance O som do rugido da onça venceu em 2022 o Prêmio Jabuti e o Prêmio Oceanos. Em 2023 venceu o Prêmio Biblioteca Nacional na categoria contos, com Desmoronamentos.
No mesmo dia, a jovem poeta, atriz e slammer Luiza Romão fala sobre a sua obra Também guardamos pedras aqui, com a qual venceu o Prêmio Jabuti de melhor livro de poesia e melhor livro do ano. Pesquisadora da poesia em performance, transformou o livro em espetáculo teatral, onde atua. As pedras a que se refere tem a ver com um ato ao mesmo concreto e simbólico, de autodefesa e resistência ao neocolonialismo. Neste livro, a autora insere questões existenciais sem perder a perspectiva crítica.
Os estrangeiros
No rol de autores estrangeiros estão a francesa Hannelore Cayre, o português Afonso Cruz, a argentina Liliana Heker e o irlandês Eibhear Walshe. Romancista, diretora de cinema e advogada criminalista, Hannelore Cayre alcançou o sucesso com romances policiais. No festival, ela apresenta e autografa no dia 18 de junho o romance A Patroa, que tem como protagonista uma mulher de meia-idade que se aventura no submundo do crime. Como tradutora de língua árabe que presta serviço para a justiça francesa, a personagem traduz conversas de traficantes grampeados em escutas telefônicas e tira proveito das informações privilegiadas e antecipadas que obtém ao realizar esse trabalho.
A escritora argentina Liliana Heker é outra convidada que se enquadra no tema da resistência política. Sua estreia na literatura se deu no início dos anos 60, na revista El Grillo de Papel, pela qual publicou vários contos e poemas. Em 1961, esta revista foi proibida de circular, por ser considerada de esquerda. Depois, Liliana foi uma das fundadoras de duas prestigiosas publicações literárias da Argentina – El Escarabajo de Oro e El Ornitorrinco, esta considerada uma das mais importantes da resistência cultural contra a ditadura de 76. Além de escritora, Liliana ministra, há 40 anos, uma famosa oficina de escrita pela qual passaram muitos dos grandes nomes da literatura argentina. No Festival da Palavra, Liliana dará uma palestra no dia 19 de junho e ministrará a oficina Os bastidores da escrita.
Escritor, ilustrador e músico, o português Afonso Cruz publicou mais de 30 livros, entre romances, contos, ensaio, poesia, teatro, não-ficção. Estreou no romance em 2008. Ele publica anualmente a coleção intitulada Enciclopédia da Estória Universal (sete volumes publicados até o momento) e escreve regularmente para jornais e publicações literárias. Cruz foi distinguido com diversos prêmios, entre os quais, o Prêmio da União Europeia para a Literatura com o livro A Boneca de Kokoschka. O autor português participa do bate-papo Escrever Hoje, no dia 19 de junho.
Eibhear Walsh, convidado para falar no dia 20 sobre o poder da palavra hoje, é professor da Escola de Inglês da University College Cork, na Irlanda. Suas áreas de interesse são a ficção e o drama irlandeses modernos e seu foco tem sido a crítica literária, a biografia e a história cultural. Ele também tem interesse pelas interconexões entre política, literatura e representações da sexualidade. Seu romance O Diário de Mary Travers (2014) foi selecionado para o prêmio Kerry Group Novel of the Year em 2015 e para o Prêmio Literário Internacional de Dublin de 2016.
Palavra e dramaturgia
Em uma conexão da palavra com a dramaturgia, o festival une no palco, na noite do dia 19 de junho, as escritoras Maria Valéria Rezende e Maria Adelaide Amaral. Ligada à educação popular, tendo atuado em diferentes regiões do país e em todos os continentes, em programas de formação de educadores, Maria Valéria Rezende vive desde 1988 em João Pessoa (PB). A socióloga e educadora estreou na literatura em 2001, com o livro Vasto Mundo. Com obras de literatura infantil, juvenil e romance, ganhou três vezes o Prêmio Jabuti (2009, 2013 e 2015).
Maria Adelaide Amaral é autora de diversas obras para o teatro e para a televisão. Entrou na televisão em 1979 e alcançou grande sucesso com suas telenovelas e minisséries. Em 2010 escreveu a minissérie Dalva e Herivelto – Uma canção de amor, sobre a vida da cantora Dalva de Oliveira e do compositor Herivelto Martins, que teve duas indicações ao Emmy Internacional. Maria Adelaide é membro da Academia Paulista de Letras desde 2020.
Serviço
II Festival da Palavra de Curitiba
De 16 a 22 de junho, no Memorial de Curitiba
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O II Festival da Palavra é uma realização da Prefeitura de Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba e Instituto Curitiba e Arte e Cultura com o apoio das seguintes instituições: Academia Paranaense de Letras, Editora Dublinense, Solar do Rosário, Escola de Escrita, Instituto Cervantes, Aliança Francesa, Cátedra de Estudos Irlandeses W.B Yeats e Amora.