Há três décadas, a capital paranaense mantém ativa uma potência cultural na cidade: o Conservatório de Música Popular Brasileira. A primeira escola pública do país totalmente voltada para educação, pesquisa, produção e preservação da MPB ganhou sede no bairro São Francisco, onde continua formando gerações de músicos.
De residência familiar construída em 1897 a um hotel incendiado em 1979, o antigo Solar dos Guimarães, na esquina das ruas Mateus Leme e Treze de Maio, se tornou, em 1993, um emblema do patrimônio musical curitibano.
O Conservatório de MPB foi inaugurado em 8 de outubro de 1993 na primeira gestão do prefeito Rafael Greca e pelo ex-prefeito Jaime Lerner, que se tornou governador do Estado no ano seguinte. A cerimônia contou com a presença da artista Zica da Mangueira, viúva do compositor Cartola, e um show com Leci Brandão, Plinio Oliveira e o Coral Brasileirinho, primeiro grupo artístico da casa.
“Da visão do ex-prefeito Jaime Lerner e abraçado pela minha primeira gestão, o Conservatório de Música Popular Brasileira de Curitiba é uma fonte inesgotável de cultura e de conhecimento em nossa cidade. Ele nasceu com a benção de dona Zica da Mangueira e embalado pelas vozes de curitibinhas. Nesses 30 anos, formou músicos talentosos, preservou e enriqueceu as raízes da música brasileira. Viva a música, viva o Conservatório de MPB”, disse Greca.
A inauguração oficial do prédio como Conservatório de Música Popular Brasileira de Curitiba se deu em homenagem aos 80 anos do nascimento do poeta Vinicius de Moraes. Idealizado por Jaime Lerner e criado sob a orientação do professor e maestro Roberto Gnattali, o Conservatório integrou a proposta de revitalização do setor histórico de Curitiba.
A cena musical da cidade participou da inauguração, assim como artistas nacionais de grande reconhecimento. Abriram o espaço, as primeiras notas musicais do saxofonista Helinho Brandão e do saudoso Saul Trumpet. “Hoje é um lugar importante para desenvolver a música brasileira, mas já foi um sonho”, afirmou Helinho.
“Aquela época foi marcada por intensidade. Continuamos vivendo intensamente o presente e vislumbrando um futuro musical de pessoas que conhecem a música brasileira”, disse Milton Karam, diretor do Coral, que também esteve como diretor de produção nos primeiros oito anos.
Também esteve na inauguração a cantora e pianista Leila Pinheiro, que vai se apresentar neste domingo (8/10), às 19h, no Teatro Guaíra, com os grupos do Conservatório.
Ponta de partida
A partir de então, o instrumentista, arranjador e compositor carioca Roberto Gnattali respondeu pela coordenação artística e pedagógica do Conservatório. O músico havia conhecido a cidade em 1991, quando esteve para lecionar na Oficina de Música de Curitiba, que mais tarde viria a ter também a categoria de MPB por forte influência local.
A atual coordenadora pedagógica do Conservatório, a pianista Mari Lopes Franklin, foi aluna das primeiras oficinas musicais oferecidas por Gnattali.
“O início dos anos 1990 foi marcado pelo boom da música comercial e pela consolidação da música sertaneja comercial. Então, era um bálsamo saber que tinha sido criado um espaço com o objetivo de manter vivas as raízes da música brasileira”, recordou Mari.
Roberto Gnattali, além de adquirir preciosas partituras para enriquecer a fonoteca do Conservatório, também estendia convites a ilustres amigos no cenário musical brasileiro, convidando-os a compartilhar seu conhecimento neste respeitado espaço. Esse impulso inicial de Roberto não apenas enriqueceu o acervo musical, mas também trouxe músicos renomados para dar oficinas.
Com Gnattali, foi formada a Orquestra de MPB que, mais tarde, se dividiria e criaria a Orquestra À Base de Corda e a Orquestra À Base de Sopro. João Egashira foi aluno no primeiro ano do Conservatório, depois entrou para a Orquestra em 1995, depois foi professor de arranjo e atualmente responde pela direção musical e regência da Orquestra À Base de Corda.
“Vivi ininterruptamente o Conservatório, tanto em intensidade quanto em longevidade. Entrei recebendo uma carga musical muito grande e é quase que um caminho natural você se entranhar na pesquisa, o local permite isso”, disse João.”A minha história se mistura com a do Conservatório, foi muito tempo de dedicação à música brasileira com pessoas remando para a mesma direção”.
Logo também foi criado o Vocal Brasileirão com direção de Marcos Leite, em 1994.
Percorrendo os espaços com os olhos da memória, pode-se até ouvir a musicalidade de artistas como Dominguinhos, Paulinho da Viola, Waltel Branco, Toquinho, Jards Macalé, Elza Soares, Hermeto Pascoal, entre tantos outros que marcaram presença nas programações do Conservatório de MPB.
Ensino, pesquisa e divulgação
O Conservatório continua a cumprir seu propósito de ser um centro de disseminação de estudos em música brasileira. Além de oferecer cursos semestrais e livres de curta duração, ele promove atividades pedagógicas e artísticas, apoiando e incentivando a pesquisa e a produção de materiais didáticos relacionados ao estudo da música brasileira popular autoral.
“O Conservatório é um ambiente democrático e inclusivo, onde a troca de experiências entre pessoas de diversas realidades é incentivada. Essa diversidade torna o ambiente aqui incrivelmente rico e inspirador. Estou realmente emocionada por fazer parte disso,” comentou Clarisse Bruns, professora de canto do Conservatório que começou a estudar no local com 14 anos.
Para desenvolver sua proposta pedagógica o Conservatório implementou gradualmente alguns projetos. Destacam-se o Afina-se, o Domingo Onze e Meia, o Terça Brasileira e o Bate-papo Musical, que aproximam grandes nomes da música brasileira da comunidade do Conservatório.
Hoje, o Conservatório tem cinco grupos artísticos: o Coral Brasileirinho, o Vocal Brasileirão, a Orquestra À Base de Corda, a Orquestra À Base de Sopro e o Grupo Brasileiro.